Falar em saúde mental é sempre uma questão complexa, que envolve muitos fatores. Quando pensamos em saúde mental de grupos minorizados devemos considerar desafios únicos vivenciados por esses grupos, que impactam de forma significativa o bem-estar ou exaustão mental.
Primeiramente, devemos reconhecer que pessoas que fazem parte de grupos minorizados, frequentemente enfrentam discriminação, preconceito e estigmatização em suas vidas diárias. Essas experiências podem levar a altos níveis de estresse, ansiedade, depressão e outros problemas de saúde mental. O constante medo de discriminação ou violência, a exaustão de ter que se esforçar mais, podem criar um ambiente de constante vigilância e tensão, afetando negativamente o bem-estar psicológico.
Em 2023 a Startup Lupa, em parceria com a revista EXAME, realizou uma pesquisa sobre Saúde Mental, Diversidade e Ambiente de Trabalho, onde foram entrevistadas 500 pessoas pertencentes a grupos minorizados. Alguns dos dados levantados pela pesquisa apontam que cerca de 79% das pessoas que fazem parte de algum grupo minorizado já tiveram ou têm sua motivação profissional reduzida por se sentirem desconfortáveis ou não pertencentes ao ambiente de trabalho. Além disso, cerca de 80% dessas pessoas disseram que já foram vítima ou presenciaram situações de discriminação/preconceito e/ou assédio no ambiente de trabalho. Ao nos deparar com esses dados, torna-se essencial pensarmos em como o ambiente pode impactar no desempenho profissional, e consequentemente nos aspectos sociais e mentais que envolvem o trabalhador. O esforço para se adaptar a um ambiente que não foi feito para pessoas como você, o cansaço de muitas vezes ter que se provar para estar nesse ambiente, são alguns dos exemplos de situações que podem ser cotidianas para pessoas minorizadas em determinados ambientes do mercado de trabalho.
Além disso, no aspecto pessoal, quando pensamos em suporte, os serviços de saúde mental nem sempre são acessíveis ou culturalmente sensíveis para as minorias. Existem barreiras linguísticas, falta de representatividade cultural nos profissionais de saúde mental e estigmas podem dificultar o acesso aos cuidados necessários. Muitas vezes, os tratamentos disponíveis podem não levar em consideração as experiências e contextos específicos das pessoas minorizadas, o que pode levar a resultados insatisfatórios ou até mesmo prejudiciais.
Todos esses fatores, podem levar a crise de identidade, sentimentos de alienação, isolamento, conflitos internos, insegurança e ansiedade, contribuindo para o adoecimento mental.
Ao nos depararmos com esse cenário, torna-se essencial em primeiro lugar reconhecer os desafios, e a realidade estruturada em nossa sociedade, assim como o papel de cada um nessa construção. Em segundo lugar, devemos nos esforçar e buscar cada vez mais conhecimento e formas de tornar os espaços cada vez mais diversos, promovendo não só a inclusão, mas a integração das pessoas pertencentes aos grupos minorizados para que haja um real senso de pertencimento e suporte nos diferentes ambientes.
Escrito por Vanessa Batista.