06/03/2024

Diversidade e o mix de gerações

Luiza Mansur

Como headhunter testemunho e tento influenciar de maneira recorrente o mindset sobre o etarismo no mundo corporativo.

Profissionais com mais de 50 anos, e que ainda não estão em uma posição de CEO, tendem a ser estigmatizados em relação a novas oportunidades na carreira executiva. Podem ser taxados com pré julgamentos como “se ainda não chegou a CEO, não chega mais” ou “não deve ter o nível de energia que precisamos”.

Lembro quando estava coletando o briefing de uma posição de CEO para uma empresa familiar de médio porte e perguntei para a Presidente do Conselho se  tinha alguma consideração sobre faixa etária. A resposta foi taxativa: “Se tiver mais que 50 anos não quero nem conhecer”. Complementei com uma outra pergunta: “Dona XXX, quantos anos a senhora acha que eu tenho?”. Ela: “Uns 40 e poucos”. Eu: “Obrigado, ganhei meu dia!! Mas tenho 50 e alguns. E hoje acordei cedo, nadei 3.000m, rotina que mantenho há muitos anos em paralelo ao meu trabalho. Acredito ter muito mais energia que muitos executivos de 40 e poucos anos…”. Nem preciso comentar sobre a reação pensativa dela. Mas ressalto o fato do candidato contratado ter mais que 55 anos.

O mesmo pré-conceito observo nos Conselhos de Administração. Mas na forma de etarismo reverso. Profissionais mais jovens são carimbados como com pouco experiência ou baixa maturidade.

Mas como sempre provoco nas minhas aulas no IBGC: “como é possível um Conselho enfrentar os desafios sobre transformação digital nas empresas se a composição do colegiado seguir como um grupo de homens brancos de cabelos brancos na faixa etária média de 60 a 65 anos?”.

O fato é que os Conselhos precisam não somente se renovar, mas também rejuvenescer. Uma pesquisa recente da Korn&Ferry com as S&P 500 (500 maiores empresas dos EUA) mostra que 75% das empresas vem estabelecendo aposentadoria compulsória para seus Conselheiros aos 70 anos, e 20% dos novos Conselheiros tem 50 anos ou menos.

Artigo recente da Harvard Business Review fala sobre a adoção crescente dos “shadow boards”, estruturas de suporte aos Conselhos formadas por jovens profissionais com perfil high-potential nas empresas. Um movimento claro na direção do rejuvenescimento, diversidade etária e abertura para novos pontos de vista nos colegiados.

Trago este texto inspirado pela oportunidade de assistir ao vivo em Las Vegas neste final de semana passado a partida de tênis entre Rafael Nadal e Carlos Alcaraz, jogo transmitido ao vivo pela Netflix.

Experiência sensacional, entretenimento e infra de primeira.

E com um super aprendizado sobre a diversidade.

Nadal com 37 anos, Alcaraz com 20. Nadal, representante da geração mais sênior do tênis profissional, com patrimônio estimado de U$ 500 milhões e dezenas de Grand Slams. Alcaraz, um millenial do tênis, com algo em torno de U$ 15 milhões e certamente uma carreira estelar pela frente (atualmente é o número 2 do mundo no ranking da ATP).

Nadal saindo de meses de recuperação por contusões, já tendo anunciado que 2024 será sua última temporada profissional.

A partida foi espetacular, a vitória foi de Alcaraz.  Apesar de grande parte da torcida (eu incluso) torcer para Nadal.

Mas o que assisti, de fato, foi a uma aula sobre diversidade etária (pois 17 anos de diferença no esporte profissional é um verdadeiro abismo geracional).

A dança entre a força da juventude com a serenidade da experiência.

A tourada de dois grandes craques espanhóis que ganharam o mundo.

As risadas e meneios de cabeça de Alcaraz à precisão e categoria de Nadal.

A fusão entre a humildade de Nadal e o foco de Alcaraz.

O porte de Alcaraz e a escolha das bolas que Nadal julgou importantes para buscar.

Muitos exemplos, muitos ensinamentos. Onde a vitória importava, sim, mas tanto quanto o respeito mútuo e a admiração interpessoal.

Ao final, a cereja do bolo: Alcaraz comenta que Nadal era seu ídolo de infância. Haja determinação, foco e disciplina para jogar contra (e vencer) seu ídolo, diante de uma plateia claramente a favor de seu adversário.

Já Nadal menciona que vai curtir a evolução e conquistas de Alcaraz como fã e não como oponente. Ou seja, espaço, torcida e admiração pelo jovem talento que tanto terá pela frente.

E mais: ao final, ninguém menos que André Agassi, outro tenista lendário e de outra geração, entregando o prêmio.

Eu emocionado. Pensativo. Arrebatado, na verdade.

Honrado com a oportunidade de ver tudo isso ao vivo.

E com direito a algumas dicas finais de Alcaraz sobre o que aprendeu com Nadal ao longo de sua carreira: (1) mantenha o espírito guerreiro; (2) tente chegar em todas as bolas (ou desafios); (3) nunca, nunca desista; e (4) busque uma solução sempre, não importa o tamanho do problema no momento.

Era para ser uma partida de tênis. Para mim, virou uma aula sobre a força da diversidade no mix de gerações.

 

Escrito por André Caldeira.

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