CONFIANÇA, INTEGRIDADE E ESPELHO.

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Semana passada ouvi um episódio muito bom no podcast “Rethinking”, de Adam Grant, que ao lado de outros grandes nomes como Brené Brown, Simon Sinek e Jay Shetty, são presenças constantes no meu Spotify, tanto pelos conteúdos abordados como pelo benchmark para técnicas de entrevista e abordagem, que venho estudando para aprimorar o meu próprio projeto do podcast Conversas com Proposito.

Neste episódio específico, com o título “Fixing the trust crisis”, Grant entrevista Rachel Botsman sobre as possibilidades de correção da crise de confiança que viemos na sociedade atual. A seguir, alguns insights que me marcaram, bem como algumas reflexões a respeito.

Botsman afirma que “confiança é uma crença, uma relação de entrega com o desconhecido”. Achei essa frase espetacular, pois basta pensarmos em alguém que efetivamente confiamos, de olhos fechados. Pessoalmente, me vem à mente minha mulher e filhos, meus irmãos, meus sócios e alguns poucos grandes amigos. Pessoas que entrego um cheque em branco, que sei que estão comigo sempre e quando eu precisar.

Ela afirma que quanto maior a confiança, melhor a convivência com a incerteza, pela correlação estatística importante entre confiança e inovação. A confiança gera melhor convivência com a incerteza sobre o sucesso, sobre o atingimento de objetivos, sobre a descoberta de algo novo. Aqui entram temas importantes quando pensamos em times, começando pela delegação, passando pelas conversas difíceis e pela maturidade, pelo accountability e pela lembrança que a discórdia é sobre uma ideia, não sobre uma a pessoa.

Grant destaca a importância de olharmos para temas-chave como os mecanismos de incentivo dentro do espectro da confiança, já que incentivos desproporcionais podem influenciar fortemente nossas ações e reações. Além disso, devemos lembrar sobre a importância do contexto, que se refere ao momento de cada pessoa, de um(a) líder, e da organização como um todo.

A visão deve ser sistêmica e crítica.

Um dos exemplos trazidos por Botsman é sobre a Amazon. Muita gente diz confiar na empresa. Mas a confiança é na empresa ou na qualidade de seus serviços? O mesmo nível de confiança se aplica na forma como a empresa trata seus colaboradores ou na crença sobre o recolhimento de todos os seus impostos? Confiança na acurácia das entregas da Amazon significa o mesmo que confiar na filosofia e nos valores da organização?

Uma outra perspectiva é sobre aspectos específicos da confiança. Exemplo: Grant confia na capacidade de Elon Musk para produzir hardware (a exemplo da Tesla e Space X), mas não software (vide o Twitter ou X). Da mesma forma que Botsman confia em Grant para estudos e sínteses de pesquisas, mas não em seu senso de direção (algo confirmado por ele, que é notoriamente um perdido em termos de localização). Ou seja, podemos confiar em aspectos particulares de cada perfil.

Por fim, é de suma importância equilibrar confiança e competência, pois a ausência de qualquer um dos dois traz grandes riscos: confiança sem competência gera resultados pífios, já competência sem confiança pode gerar fraudes ou desvios.

Ambos concordam que a integridade é a característica basal da confiança. Mas Adam chama a atenção para os perigos da empatia pela possibilidade da criação de vieses, ou identificação com aqueles que pensam, sentem ou agem como nós. Ele defende o “care”, no sentido de “se importar”, equilibrando bem este cuidado com a integridade, relacionada a princípios. E alerta para os perigos da alta correlação entre o “care” e a integridade em vários estudos, explicando que não necessariamente aquele que se importa tem integridade…

Achei muito interessante também a constatação que pessoas que confiam mais nos outros tendem a detectar melhor mentiras, pois já foram enganados muitas outras vezes. E o mesmo estudo citado por Grant aponta que, especificamente em entrevistas, as pessoas que confiam mais tendem a detectar melhor os sinais quando algo não é verdade.

Por fim, o teste de Grant para checar integridade. Em entrevistas, ele pergunta “O que há de errado em nosso processo de entrevistas?”. Afinal, a integridade é posta à prova quando uma pessoa responde, mesmo correndo o risco de não ser contratado(a), ao dizer o que efetivamente acha que há de errado, ou o que pode ser aprimorado.

Quando pensamos em nossas relações pessoais e profissionais, em nossas interações com os líderes de empresas e com a sociedade, temos aqui um conjunto importante de reflexões, aprendizados e pontos de atenção.

Que, como sempre provoco, começam com o espelho.

Escrito por André Caldeira

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